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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Por que jogamos video games?


Mesmo após alguns anos trabalhando com jornalismo de games, meu pai ainda não sabe muito bem o que eu faço. Para ele, é inconcebível que eu continue com essa “brincadeira de criança”, principalmente como profissão. Afinal, por que eu fiz quatro anos de faculdade se continuo perdendo meu tempo com um hobby que me acompanha desde os cinco anos de idade?
O que ele não entende, com toda sua simplicidade, é que há muito mais em jogo que simplesmente apertar botões e desperdiçar minha vida com algo pouco produtivo. Mais do que ser meu trabalho, a paixão por video games também está envolvida com uma série de questões psicológicas que acompanham não só a mim, mas a todos que dedicam seu tempo enfrentando deuses gregos, lutando contra raças alienígenas ou simplesmente descobrindo que sua princesa está em outro castelo.
É claro que boa parte da razão que nos faz estar sempre procurando um novo título para ocupar nossos tempos livres é a diversão. Acima de tudo, games ainda são formas de entretenimento, tal como o cinema e a televisão. No entanto, diferente deles, segurar um controle e apertar alguns botões nos envolve e nos cativa de uma maneira completamente única.
Mas, afinal, o que nos faz ser apaixonados por jogos?
Processos psicológicosAs três necessidades básicas do ser humano
Chegar em casa depois de uma semana estressante, se jogar no sofá, colocar as pernas para cima e passar horas apenas passeando pelas ruas de Liberty City, pelo Velho Oeste ou simplesmente atirando contra soldados inimigos em uma guerra que nem é sua. As possibilidades são tantas, mas a diversão é uma só — e é isso que nos interessa.
No entanto, essa é a única razão para nos fazer jogar? Por mais que ela seja a resposta mais comum a essa pergunta, certamente não é a única. Levando em consideração que há uma série de outras formas de ocupar sua cabeça para o mesmo fim, o que nos motiva a escolher exatamente essa?
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Não são poucos os estudos que tentam chegar a uma conclusão definitiva sobre isso, mas alguns pesquisadores talvez já tenham chegado perto. É o caso de Scott Rigby, psicólogo formado na Universidade de Rochester e cofundador da Immersyve, uma companhia especializada em analisar as necessidades humanas e sua relação com o apelo oferecido pelos video games.
Coletando dados com milhões de jogadores e até mesmo com desenvolvedoras ao longo dos últimos anos, Rigby e sua equipe conseguiram alguns resultados que, ao menos no meu caso, se mostraram muito verdadeiros.
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Segundo ele, todas as pessoas possuem necessidades psicológicas básicas, as quais são saciadas a partir de pequenos comportamentos, atividades e decisões que tomamos a todo o momento. O importante é que cada um de nós tenta alcançar essa satisfação de uma maneira, seja na escola, no trabalho ou durante algum hobby. Em outras palavras, são aquelas pequenas coisas que nos fazem ficar satisfeitos.
Em seu livro “How Videogames Draw Us In and Hold Us Spellbound” (ainda sem tradução em português), o psicólogo aponta que os jogos eletrônicos possuem um apelo muito forte nas pessoas exatamente por conseguir atingir várias dessas necessidades básicas de uma só vez e com muita eficácia — sobretudo em três pontos bem específicos.
Progresso imediato
Eu não sei vocês, mas eu tenho um sério problema com academias. Tentei várias vezes me dedicar a isso, mas a demora em aparecer qualquer resultado me fez abandonar o ambiente todas as vezes em pouco tempo, me forçando a procurar alternativas mais “rápidas” de sair do sedentarismo.
Isso porque eu sou uma pessoa que preza pelo imediatismo. Não sei lidar com a espera e com a sensação de que aquilo que estou fazendo não está dando resultados. Pode até ser um defeito meu, mas sou assim e não há muito que fazer.
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E é exatamente por isso que os video games me prendem tanto. Eu dedico meu tempo — muitas vezes precioso e escasso —, mas vejo a resposta para isso vindo em curto prazo. Seja com os níveis de meu personagem subindo no meu RPG favorito ou com as novas habilidades que meu personagem ganhou, eu sou constantemente recompensado pelo meu esforço.
Se formos olhar friamente, deixando de lado toda a experiência que nos cativa, jogar video game nada mais é do que apertar uma sequência de botões incessantemente — exatamente como meu pai vê o que eu faço. No entanto, para nós, jogadores, trata-se de algo muito maior exatamente porque somos “premiados” a todo o momento com algum tipo de incentivo que nos motiva a avançar — algo que pode ser feito com novos trechos da história, equipamentos, poderes e até mesmo a já citada evolução de níveis. São várias formas de nos envolver, todas muito eficientes.
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Talvez o melhor exemplo para ilustrar essa questão seja exatamente a série Diablo  Embora muita gente critique a jogabilidade repetitiva do jogo da Blizzard — que se resume basicamente a apertar o botão do mouse até que seu dedo fique prestes a cair —, os fãs sabem o quão prazeroso é ver seu herói melhorar a cada inimigo derrotado, seja com uma arma rara que acaba de aparecer ou com aquela magia que você desbloqueou.
Liberdade: um mundo livre de algemas
O segundo ponto apresentado por Rigby não é nenhum mistério. A liberdade é um dos pontos mais amados pelos jogadores e é uma busca constante em praticamente todos os títulos. No entanto, por quê?
Segundo o psicólogo, essa característica já básica da nossa cultura também é algo que procuramos nos jogos, principalmente por eles possuírem regras diferentes do nosso mundo. É por isso que, para muitos, Grand Theft Auto é tão encantador. Nele, você pode fazer coisas que são impossíveis no “realidade”, transformando o video game naquela quebra de grilhões que vai permitir que você faça aquilo que você realmente quiser.
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É claro que o exemplo de GTA é até um pouco radical — o que o torna o jogo preferido pelos críticos, que veem essa fuga da lei como uma desculpa para enxergar maníacos psicopatas atrás de cada joystick —, mas ele mostra muito bem a sensação de poder que todos nós queremos em nossas vidas. Trata-se da necessidade de ser livre para tomar suas próprias decisões.
O grande segredo dos games é que eles conseguem fazer isso de uma forma muito mais convidativa. Esse livre-arbítrio está presente em vários momentos de nossas vidas, mas sempre acompanhado de consequências. No mundo virtual, por outro lado, a responsabilidade pelas suas escolhas possui uma conotação menos séria, uma vez que você sempre há um checkpoint ou um save para retornar, além da possibilidade de reiniciar a história para seguir um caminho diferente. Assim, você se sente mais livre para fazer aquilo que você quer da maneira que desejar.
Altruísmo digital
 O último ponto levantado por Rigby é o que ele chama de “necessidade por se sentir útil”. Para ele, todas as pessoas querem ser necessárias de alguma forma, ou seja, ter algo com o que contribuir para a sociedade. No caso dos jogos, por que nos importamos com sua história, seus personagens e seus dilemas sendo que nada daquilo existe? Porque somos nós que vamos resolvê-los e organizá-los.
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Seja em um RPG, em um título de mundo aberto ou em algo mais linear, o jogador é sempre posto na figura da pessoa que pode acabar com os problemas apresentados. Isso pode ser tanto na batalha contra um terrível vilão quanto em questões do cotidiano, como buscar determinado item para o jantar, por exemplo. O importante é que, de certa forma, você ajudou alguém.
Como levantado pela revista Game Informer, uma pesquisa feita pela Universidade de Massachussets mostra exatamente que pessoas altruístas se sentem bem consigo mesmos em um nível muito maior do que os demais indivíduos, o que comprova que esse tipo de comportamento — mesmo que artificial — diminui os índices de estresse e aumenta os de satisfação pessoal.
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E não se trata apenas de salvar a vida de NPCs, mas a própria interação com outras pessoas, mesmo quando intermediada pelo console. A expansão dos modos multiplayer na atual geração é um reflexo disso, uma vez que o sistema cooperativo que muitos títulos oferecem não apenas serve para satisfazer essa necessidade psicológica como também para trabalhar o espírito de trabalho em equipe em muita gente.
A quarta razãoO lado negro da diversão
Além dessas três necessidades listadas por Rigby, há uma quarta razão que muita gente usa para justificar as horas em frente à TV. Sabe aqueles momentos em que você precisa correr para o video game para ocupar sua cabeça e deixar de lado qualquer problema real? Pois esse é um dos motivos menos glamorosos que muitos de nós temos para jogar.
É claro que não há problemas em usar o entretenimento como uma forma de escape de vez em quando, mas as coisas mudam de figura a partir do momento em que a diversão serve como uma barreira para impedir que você encare questões mais relevantes. Guardadas as devidas proporções, é o mesmo “alívio” que viciados tentam encontrar no álcool e em outras drogas: uma forma de se desligar desse mundo e de todas as suas complexidades para se refugiar em outra realidade.
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Desnecessário dizer que, de todos os motivos que justificam por que jogamos, essa é o único que realmente pode ser realmente nocivo ao indivíduo. Querer esquecer um dia estressante é algo normal, mas o mesmo não acontece quando você tenta viver outra vida apenas para não encarar o que está sendo oferecido aqui fora. Para estes casos, recomendamos acompanhamento psicológico.
Para todos
Nada disso aqui é definitivo. Como dito, são resultados de anos de pesquisas, mas isso não significa que esses são os únicos motivos que nos fazem gostar tanto de video games. Ainda há uma infinidade de outras razões, uma vez que a subjetividade da questão permite infinitas possibilidades. Por isso, queremos saber sua opinião.
Afinal, o que faz você ser apaixonado por jogos?

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